sexta-feira, dezembro 30, 2005

( ) – Pensamentos II

Hoje nosso herói Leonardo encontra-se deitado em sua cama. São 4:07 da manhã. Ele está com insônia, entediado, e decidiu fazer aquilo que chamamos de “pensar na vida”. Será que todos pensam assim?

(Mas que caralho viu! 4 e 10 da matina e eu não presto nem pra dormir. Como se já não bastasse estar desempregado, sem dinheiro, sem namorada e ser feio, ainda tenho que ficar me revirando na cama. Será que carne seca é comida energética? Na janta comi bastante carne seca...)

(...) - Acredito que nesse momento ele tenha atingido o Nirvana!

(Já sei. Vou rezar. Dizem que ajuda. Em nome do Pai, do filho, do Espírito... Íh! É direita ou esquerda agora? Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome. Venha a nós o... ah vai pra puta que o pariu! Não! Não o Senhor! Pelo amor de Deus não me entenda errado! É essa situação! Ô...que estranho falar “pelo amor de Deus” enquanto se fala com Deus! Putz, to parecendo um autista de filmes. Boa! Acho que vou assistir um filme. Será que ta passando alguma coisa agora? Só se for Cine Privê!) - Pequeno sorriso - (Eu não acredito que com aquela idade eu ficava acordado até a essa hora pra ver aquele filminho boqueta! Ninguém merece! Acho que vou assistir Meninas Super Poderosas DVD que comprei. Ah não! Muito longo. Amanhã tenho que levantar 8hs. Amanhã não, daqui a pouco! Dã, que observação idiota! Pior que tenho que levantar as oito só pra ver Bom Dia e CIA com a Eliana! Acho que vou ficar dormindo mesmo)

Porta abrindo. Léo arregala os olhos (PUTA QUE PARIU! Esqueci de pegar meu irmão na balada!).

- (Nossa, agora fudeu!) Juca... Mano...
- Porra Léo! Sabe como eu vim pra casa?
- (Putz, ele veio com a fubanga da Gabi!) De táxi?
- E eu lá tenho grana pra táxi? Eu não tinha como voltar e adivinha de quem tive que aceitar carona?
- (Ai meu Deus é a Gabi mesmo!) Não sei!
- Da Jaqueline (Será que ele cai nessa?).
- (Não é possível!) Cê ta falando sério? (a Gabi não perderia essa chance por nada)
- Opa! Cê perdeu! Ela tava muito gata! Isso que dá me esquecer! Deus castiga!
- (Porra, Deus, falei que não era pro Sr. ir à puta que pariu aquela hora) Cê não ficou com ela não, né?
- (Agora vai!) Não só fiquei como estava no carro com ela até meia hora atrás, aqui em frente de casa!
- (Ah, nessa eu não caio!) Ela namora! Como assim te deu carona?! Como cê comeu ela?!
- “Como?” Tipo em qual posição? Ah, a gente tava no carro, então...
- Não, sua anta! Como cê conseguiu isso? Ela começou um namoro agora!
- Que namoro aonde! Ela mentiu pra você porque todo mundo sabe que você é muito xavequeiro! (e todos te chamam de zé bonitinho sem você saber!)
- Porra Juca! Cê sabe que eu curto ela!
- Ah Léo... Cê me esqueceu lá! Só tinha ela pra me dar carona! Ela tava me dando mole... aí não teve como!
- (Safado sem vergonha, te mato) Fazer o que né? Eu acho que mereço!
- (Cê merece uma carona com a escrota da Gabi, quase que eu morro!) Pôxa, foi mal Léo...
- (Foi mal o caramba!) Relaxa! (Afinal, esse tipo de coisa sempre acontece, né, filho da puta!)
- Valeu mesmo cara. Boa noite. (Ahá! Score!)
- (Só se for pra você né? Quer um cigarro agora que acabou de foder?) Boa noite mano.

sábado, dezembro 24, 2005

A Carta

Olá! Tudo bem com você?

Bom, você queria minha opinião; queria que eu lhe dissesse tudo o que ele pensa. Espero que os ajude!

Ele se sente medíocre perto de você. E você nem desconfiava, certo? Por que essa insignificante diferença de idade os deixa tão distante? Ta, eu sei que não tem nada a ver com idade. A verdade é que ele ainda não cresceu o suficiente pra você. Não estou menosprezando-o, estou valorizando você.

Você tem total segurança em seu jeito de ser (foi a primeira coisa que ele notou). Já ele nem consegue falar dele mesmo. Quando ele pensa em você, lembra que um relacionamento entre um casal pode ser muito difícil de acontecer, pois homens e mulheres “jogam” o tempo inteiro. O problema é que não existem regras neste jogo, e isso endurece os corações envolvidos. Ambos pensam que estão jogando limpo e sendo enganados pelo outro. Caramba, quem disse que um relacionamento envolve apenas duas pessoas?

Ele lembra também que mulheres têm poder sobre os homens. Muitas vezes, a beleza os paralisa, eles ficam fascinados e perdem o controle. Escondem sua intimidade sendo sarcásticos e aversivos; e além disso tudo, são inseguros quanto a masculinidade! É ridículo! Como podem conversar com mulheres se são tão indefesos? Se não sabem o que é ser um homem, como entender as mulheres? Foi numa dessa que ele me disse que os homens temem as mulheres!

E por causa de tantos pensamentos assim, ele agradece todo dia por ser gay!

Carlos, espero ter te ajudado. Sempre torci pra que vocês dois ficassem juntos!

Um abraço.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Vida de Cão

Eu sou apaixonado por cachorros. Tenho adoração por esse bicho! Ano que vem, quando me mudar deste apartamento que morei por apenas 22 anos (minha vida inteira), terei meu primeiro cachorro. Neste condomínio não é permitido ter animais. Meus pais tentaram me animar com um aquário quando era criança, mas minha diversão era dar comida para os peixes o tempo inteiro (eles realmente não lembram de suas refeições após alguns minutos) e vê-los brigando até se matarem!

Espero que o Cluck (“garoto”, em tcheco), ou Peste não seja um cachorro mala. Vou criá-lo com alguns critérios, para que ele não seja um desses cachorros retardados que tem aqui pela minha vizinhança.

Olhando da minha janela (6º andar), a casa mais próxima de meu condomínio tem um pastor alemão. Com certeza esse cachorro é perturbado. Late o tempo inteiro. Quando eu digo o tempo inteiro, quer dizer latidos seqüenciais durante horas, com várias entonações. Chega um momento em que ele parece até esganiçado, rouco. Às vezes ele faz um breve intervalo, que é a ocasião onde fica jogando uma corrente pra cima e pegando de volta. Mas late pra tudo. Raios, trovões, balões, aviões, pneus, plantas, portões, faróis... tudo! Uma vez vi esse pastor latindo como um louco de frente pra parede, com o focinho quase grudado nela: estático! Devia ser algum inseto. Ou a própria parede. Também já vi esse dog brincando de comer sua dona, a menina de 12 anos que o batizou de Pluto (Obs: “comer” foi uma metáfora! A menina ficou horrorizada esse dia. Quem mandou chamar o cachorro louco enquanto estava deitada?). É o cachorro que não te deixa dormir, ver TV, ler, nem olhar pra janela; porque se ele te vê, fica olhando pra cima e latindo. Talvez ele esteja estressado; um psicólogo faria bem! Vocês já imaginaram essa cena, né?

Ao lado direito dessa casa existe um pastor belga. Lindo cão. Deve fazer uns 7 ou 8 anos que o vejo nessa casa. Nunca saiu de lá. Aposto que nunca mijou num poste de rua! Também acredito que tenha visto no máximo 3 banhos. O coitado não faz nada. Só bebe água, come, caga e dorme. Quase denunciei os donos para a associação protetora dos animais. Eu nem sei quem são, mas se é pra tratar um cachorro assim, pra que ter? Confesso que não sei por que não os denunciei.

E ao lado esquerdo do pastor alemão, temos um cocker. Eita cachorrinho que sabia ser mala tão bem quanto. Mas melhorou. Acho que apanhou demais. Vivia brigando com o dono. Ele tinha o mal do pastor alemão, latia compulsivamente. Só que o dono era impaciente, e de vez em quando ouvia daqui de cima (com a janela fechada) um “CALA BOCAAAA” com tamanha ferocidade que duvido que alguém do condomínio se atrevia a falar!
Mas com o cachorro mesmo não funcionava! O cara gritava e o cachorro contra-latia ainda mais alto. Então, utilizando a mesma arma do Lindomar, nosso Sub-Zero brasileiro que calçado em suas havaianas deu uma voadora na empregada que espancou um bebê, o dono pegava seu chinelo e avançava no cachorro quase igual a um wolverine. Afinal de contas, os dois rugiam na briga! Parecia a cena do filme “O Máscara”, quando o Jim Carrey falava com o Milo “Give me the keys”, só que um pouco mais violento (e no lugar da chave, as havaianas). Dava pra ouvir o cara gritando “Morde eu! Morde eu pra você vê! MORDE, MORDE!”

É...são pérolas que eu espero nunca ouvir a respeito do meu cachorro, ainda mais vindas de um desocupado que não teria o que fazer a não ser ficar olhando meu cão!

terça-feira, dezembro 13, 2005

Episódio I - Você conhece o Inferno?

Vou lhes apresentar:

Cléber – Pai
Eunice – Mãe
Dona Ema – Avó
Drica – Filha mais velha
Fred – Filho do meio
Bizinho – Caçula

Cena 1 – Saindo de casa

Cléber – Anda logo gente! Quero voltar a tempo de ver o jogo!
Eunice – Não começa, Cléber. NÃO COMEÇA.
Drica – Não começa vocês dois, por favor. De novo não!
Cléber – Já tamo perdendo tempo. FRED! BIZINHO! Cadê vocês?
Fred – Será que posso terminar de cagar ou ta difícil?
Bizinho – hahaha
Eunice – Cuidado com a autoridade, Fred! CUIDADO!
Bizinho – O que é autoridade?
Drica – É o nome do cocô. A mãe falou pra ele tomar cuidado com o cocô!
Bizinho - !
Eunice – Mas será possível? MAS SERÁ POSSÍVEL?
Cléber – Eu já vou indo tirar o carro. Vocês enrolam muito.
Fred – Você disse que na próxima vez EU que poderia tirar o carro!
Cléber – Mudei de idéia. Agora vamos.
Fred – Porra, mas que impaciência!
Cléber – Culpa da sua mãe.
Drica – Ai, que saco hoje viu?! Aliás, sempre!
Eunice – Culpa do seu pai. CULPA DO SEU PAI.
Cléber – Vamos logo pelo amor de deus!

Cena 2 – Apanhando Dona Ema

Cléber – Sobe logo no carro Dona Ema!
Eunice – Olha o jeito que você fala com minha mãe, Cléber! OLHA BEM!
Drica – Gente dá um tempo!
Fred – Esquece, com esses dois é o tempo todo.
Dona Ema – Hein? O que vocês tão falando?
Cléber – NADA! SOBE LOGO EMA!
Dona Ema – Credo Cléber, porque gritar assim?
Eunice – O Cléber ta atacado hoje, mãe. TÁ ATACADO!
Cléber – Ah vai procurar sua mãe no zoológico, Eunice!
Bizinho – ahahah
Drica – Que horror, pai. Pára!
Fred – CALA A BOCA TODO MUNDO!
Cléber – Concordo. Vou é ligar o rádio.
Eunice – Tira agora dessa rádio Cléber.
Cléber – Putaqueopariu escuta a música Eunice!
Bizinho – Puta que o pariu! Puta que o pariu! ÊêÊÊê!
Fred – Fica quieto Bizinho.
Eunice – Tá vendo Cléber?! TÁ VENDO?
Cléber – To vendo o trânsito, TO VENDO O TRÂNSITO!
Dona Ema – Hein?
Drica – Nada, vó. Deixa os dois gritando.
Dona Ema – Eles estão gritando de novo? Meus filhos: isso não pode ser assim!
Cléber – Não enche Ema! Vou te enjaular e vender pro Bosque dos Jequitibás!
Fred – A gente tá chegando?
Cléber – Chegamos. Graças a Deus.

Cena 3 – De volta pra casa

Cléber – Olha aí! Trinta minutos do segundo tempo!
Eunice – Ah não torra Cléber, NÃO TORRA!
Drica – Vocês brigaram o dia inteiro, será que dá pra parar agora pelo menos pra eu dormir?
Fred – É, meu, tá loco! Vocês brigam de mais! Porque não se separam de uma vez?
Cléber – Não dá idéia, Fred! Vai dormir! Quero ouvir o jogo!
Eunice – Ah então é assim? É ASSIM?
Bizinho – Manhê, quero fazer cocô!
Drica – Vai no banheiro Bizinho, aliás, você não deve ouvir esses dois gritando.
Bizinho – Mas preciso de ajuda!
Cléber – Eunice, vai ajudar o Bizinho.
Eunice – Ele é seu filho também, sabia? SABIA?
Cléber – Sabia que o jogo ta acabando e eu quero ver o final?
Fred – Essa casa é um Inferno! To saindo daqui!
Drica – Onde você vai, Fred ?
Fred – Sair.
Bizinho – Eu quero fazer cocôôô!
Eunice – Eu vou dormir. Pra mim chega! CHEGA!
Cléber – Boa noite!
Drica – Quer saber, vou dormir também. Boa noite!
Bizinho – Manhê, acho que tenho autoridade dentro da minha calça.
Eunice – Seu pai também costumava ter! COSTUMAVA!

sexta-feira, dezembro 09, 2005

“Ô” Cara

Ele é bombado
E também é sexólogo.
Ele é tarado,
Não curte monólogo.

Com ele tudo é na ação.
Inspiração no busão,
Lanchonete ou balada.
Todas tomam pedaladas.

O passado não o estraga.
O futuro não apareceu.
Ainda comerá uma draga
Qual a Beth que comeu.

Pode ser bonita, pode ser feia;
Ter bigode ou pêlo no sovaco.
Todas caem na sua teia.
Basta ter al
gum buraco.

- Publicado especialmente para a leitura de Serjones! (www.coracao-envenenado.blogspot.com)

terça-feira, dezembro 06, 2005

Não existe regresso

Suas pálpebras ainda não se abriram, mas ele sabia que não estava em seu ambiente, ele sentia. Tudo escuro. Entretanto, não era o escuro que conhecia, pois neste sentia-se tonto, tinha pensamentos turvos e sem direção. Neste, não tinha o aconchego que tanto lhe fazia bem, nem o calor que o mantinha aquecido o tempo inteiro. Neste escuro sentia muito frio, muito medo, e apenas a vontade de voltar.

As coisas não estão como deveriam. As sensações estão longe da normalidade. Nunca havia sentido nada com tamanha amplitude antes de o tirarem brutalmente de seu lar, de sua segurança. Agora não sabia o que fazer, não tinha forças. Parecia não estar preparado pra tudo isso. Só conseguia debater-se levemente.

As pálpebras se abriram como um fino raio do horizonte. Luzes. Muito fortes. Talvez não fossem tão veementes, mas há meses estava no seu cômodo e escuro recinto. Aos poucos sua pupila dilatou. Não reconhecia nada ao seu redor, nem mesmo sua própria visão. Tudo lhe pareceu extremamente assustador.

Então chorou. Chorou como um bebê.

sábado, dezembro 03, 2005

E agora?

A empregada faltou, o pão queimou, a hora passou, o trabalho atrasou.
A página expirou, o computador travou, a noite varou, o pernilongo cantou.
O violão quebrou, a música gritou, o silêncio reinou, o vizinhou comemorou.
O cachorro cagou, a paciência estourou, a safadeza proliferou, a bosta cheirou.
A mão cansou, o corpo pesou, o olho fechou, o cérebro pifou.
O computador não arrumou, o discurso não funcionou, o rosto corou, a nota zerou.
O carro falhou, o pneu furou, o ônibus brotou, a fama acabou.
Meu pai se embebedou, minha mãe surtou, minha irmã pirou, a família revogou.

A conta venceu, o saldo morreu, a esperança se perdeu, o dia enegreceu.
A senha apareceu, a informação nasceu, todo mundo escarneceu, a perna tremeu.
O marido morreu, a mulher agradeceu (!), o dinheiro não cedeu, a vida enriqueceu.
O cara bateu, o agredido padeceu, o policial não defendeu, a noite se pareceu.
A barba cresceu, a preguiça acometeu, a energia amoleceu, a aparência adoeceu.
Ontem não valeu, hoje aborreceu, amanhã temeu, a auto-estima desapareceu.
A história se escreveu, nada se resolveu, a merda fedeu e o mundo emudeceu.

AGORA FUDEU !