sexta-feira, fevereiro 24, 2006

A Primeira Vez

Segurando o palito de fósforo totalmente trêmulo, aproximou-o de seu cigarro. Viu a chama vermelha brotando, deu uma tragada lenta e profunda, fechou os olhos e tomou consciência do que havia feito. O corpo estava à sua frente, envolto a uma poça de sangue, inerte a qualquer sopro de vida, inerte a qualquer sentido de seu carrasco. Frio e calculista, o executor estava sentado numa cadeira, observando o corpo todo retorcido num canto e a cabeça num outro da pequena sala escura.

Um silêncio brutal invadira o recinto. Audível tornara-se apenas seu cigarro queimando a cada tragada. Seus olhos, imóveis, pareciam admirados e se entorpeciam com a cena. Era como se tudo fizesse sentido, como se levassem todas suas frustrações e angústias para longe do mistério de sua existência.

A passos mansos e desalinhados espalhou gasolina pelo recinto, caminhou lentamente até a porta e atirou a bituca de seu cigarro. Regozijou-se com o calor emanado em seu rosto, que o fez erguer os braços e inspirar profundamente. Sua alma agora se sentia livre e renovada. Já não estava mais trêmulo quando um pequeno sorriso surgiu em sua face.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Ditadura Escolar

ESAMC. Sala 126. Nono Semestre. Comunicação Social. 20hs e 08min. Primeira Aula: Produção de Áudio. A professora diz:

“Qual seu nome, mesmo?”
“André.”
“André, vou ter que fazer aquilo que disse na primeira semana. Por favor, eu preciso continuar minha aula.”
“Quer que eu saia?”
“Isso mesmo.”
“Tá.”
"Eu agradeço.”
"(...)De nada.”

Ao fechar a porta, também cerro meus olhos fortemente e lamento do fundo do meu ser: “Putz, mas que MERDA! A segunda aula é com ela também...”.

Gostaria de dizer que faz uns seis anos que isso não ocorria, quando estava no 2º Colegial, mas faz apenas dois. Existem coisas que nunca mudam. Porém, nostálgico que sou, o episódio até me agradou de certa forma.

Minha mãe sempre disse que estamos na mão do professor. Maldição! Eu odeio hierarquia. E depois dizem que devemos ser contingente. É, concordo. Mas nesse caso, não, obrigado. Aceito a ditadura no lugar de mais uma DP.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Mudança

Não serei mais seu acolhedor. Não quero mais saber dos seus problemas, muito menos aconselhar-te a solucioná-los. Não me procure mais. Não dessa forma. Não me busque se estiver em apuros, se precisar de contribuições, se precisar de alguém para confidenciar. Não quero mais ter o dom de ouvir, de entender, de sentir. Não quero mais te fazer sorrir. Não por esse motivo.

Quando te traírem, não hesite em me procurar, mas não quero ver suas lágrimas. Não busque palavras de compreensão, não me olhe desesperadamente. Meus olhos são escuros, vagos e frios. Não entenderiam tal apelo. Quando perceber minha ausência, não se assombre. Você nunca entenderia que esta ausência é fruto da minha extrema presença. Nunca entenderia que minha aspereza é originada do meu extremo cuidado. Nunca suspeitaria que este egoísmo busca alguém, que minhas novas atitudes são de um renascido aprendendo a viver. Por isso, se apenas quiser virar as costas e sair, saia. Você nunca o fez, mas também nunca esteve presente suficientemente para mim. Não como eu quis.

Diga que sou muito melhor agora, que estou muito mais próximo dessa maneira, que me tornei atraente (assim deveria ser). Você não encontrará sentido. Muito menos eu.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Aí mano

O lance é o seguinte: caiu na área é pênalti, sacô? É isso aí! Pego tudo que aparece sem frescura. É lógico que eu não sou bizonho de catar mulher feia, só cato gata. Sô foda! Acha que to mentindo, seu escroto? Pode perguntar pra qualquer um aí da irmandade que os maluco confirma. Eu mando bem pra caralho. Comigo não tem lenga lenga não! Ta com cú doce? Então sai fora com seu Donuts porque isso é o que não me falta!
Num vem falar que você num gosta disso porque você sabe que gosta, gata. Gosta que o canalha aqui dê uns beijo com sua melhor amiga, sua prima, sua mãe, e te deixe com aquela curiosidade de provar do meu melzinho. É o cachorro que cê quer, eu sei, mas não vou ficar te lambendo não! Se tu bobiar, já era. Sô fura-zóio memo! Fico com um monte ao mesmo tempo e curto ver as mulher se cotovelando pra chegar primeiro!

Num dô boi não, mano! Ou dá ou desce. Oito ou oitenta. Não quer? Então vaza, perdeu a chance! Sai da minha frente porque já tem outra olhando pro meu Peugot. Se você mudar de idéia, no meu carro cabe quantas mulher precisar. Se guarda me parar meu pai rebenta o coitado. Faz a bagalha do sujeito ir parar no xadrez. Qué o quê, malandro!? Meu pai é Delegado! Vacilou comigo primeiro apanha e depois toma tiro, é lei! Maluco nenhum manda em mim não, então num me da idéia errada que eu perco a paciência, certo?

O quê que é?! Ta olhando o quê?! Num foi com a minha cara? Aí, não encara muito não porque hoje eu to loco pra da porrada, falô?

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Espera aí

"...Há um alguém na multidão que vai lhe adorar com devoção..."

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Pérolas Praianas

Como é do conhecimento de alguns, estive na praia na semana passada e resolvi dedicar este post a algumas pérolas praianas que não saem da minha cabeça.

1)A fala de um turista mineiro: “Óia lá Pai, o jeitin que ela nada, par-rece uma per-rerequinha”.

2)A fala de um turista bocó: “Eu falei pra ele...não pega isso aí não, ele achou que era silicone mas a moça falou que é água-viva, só que é água-viva-morta”.

3)A música praiana: “Sou praieiro, sou guerreiro, to solteiro, quero mais o quê?”.
Pra mim, a melhor versão seria “sou praieiro, sou guerreiro, eu sou feio, quero mais dinheiro”.

Depois dessas, Iemanjá ainda me deu alguns presentes. Na areia da praia, meio escondido entre as algas que o mar trouxe, encontrei um colar, uma chave de um Wolks e de um Fiat junto com uma terceira que deveria ser de um portão: muito obrigado!