domingo, janeiro 14, 2007

Na Falta de Energia Elétrica

Era uma noite como qualquer outra, 20:55h. Mas basta a falta de energia elétrica para que tudo ganhe uma atmosfera diferente. Sem computador, TV, geladeira ou qualquer outro entretenimento disponível (já que sua vida era praticamente cibernética), deitou em sua cama e, sob a luz de uma vela, deixou as lembranças virem espontaneamente.

O primeiro pensamento foi para ela, claro. A mulher que tanto desejava e admirava. Lembranças de algumas conversas, de um olhar, de palavras mágicas ditas por ela, mas consideradas assim apenas por ele. Lembrou do dia em que acidentalmente tocaram as mãos e decidiu abstrair-se desse pensamento. Não era mais um garoto de 15 anos. Não podia se apaixonar assim, estar tão submisso a um sentimento e tão carente de alguém.

Então se lembrou da sua adolescência, quando fazia sentido se apaixonar e se decepcionar. Lembrou das inúmeras vezes em que fizera papel de ridículo perto de uma garota, que fora traído. Quantas vezes o machucaram. Deu um pequeno sorriso para si, e, olhando para a vela que agora se movimentava com a força do vento, achou graça do fato de um dia pensar ter se tornado mais forte por ter sido magoado tantas vezes. Ou ainda de ter se transformado num cético para o amor. A quem enganar? Estava apaixonado por ela e quase admitindo, pronto para se decepcionar mais uma vez. Todas que já o entristeceram foram queridas por ele. Umas mais, outras menos. Mas nenhuma foi por acaso.

Testou a luz e nada acendeu. Realmente queriam fazê-lo pensar, então tentou entender de onde vinha o sentimento ruim daquele momento. Se era bem quisto por todos, se todos realçavam suas qualidades, se o futuro era tão promissor, o que poderia estar tão errado? Questionou-se então o porquê de não ter alguém do seu lado nesse momento, e percebeu que ser romântico é uma vantagem sim, se você estiver nos anos 60/70 e for um cantor. Viu que hoje os “garotos bons terminam por último”, e tudo fez sentido. Não é por acaso que os imprestáveis são os mais acompanhados e que os bonzinhos são os mais chutados. Mulheres definitivamente não sabem o que querem.

Encerrou a discussão mental e voltou a consciência para seu quarto. Testou a luz novamente. Nada. Pensou um pouco mais e então teve a sensação: a falta de energia não o incomodava mais.