segunda-feira, junho 25, 2007

O céu nunca é o que parece...

Ele abre a porta de seu quarto e, com certeza INESPERADAMENTE, vê seu filho na cama:

- JESUS CRISTO, FILHO!
- PAI!

O filho arregala os olhos, mas logo em seguida já abaixa o olhar. Coloca a mão na testa e balança a cabeça negativamente.

- Meu Deus filho... o cê ta na MINHA CAMA!
- É...
- E COM DUAS MULHER, minha nossa senhora! Olha... espero não ter interrompido isso! Sério!
- Não...a gente já... acabou.
- Graças a deus, que alívio! Não é todo dia que a gente dorme com duas! Eu por exemplo nunca dormi! Hehe. Bom, chega, fui, to fechando a porta!

- Gostei do teu pai.
- Que figura...

Severo e seco como o pai era, ele conseguiu ser genial pra despistar daquele jeito. Essa saída inesperada e totalmente teatral por parte do pai acabou sendo muito mais assustadora do que se ele simplesmente começasse a gritar. O garoto nunca tinha visto seu pai conseguir ser tão inteligente e frio pra escapar de uma situação como essa.

Dia seguinte:

- Ô pai, foi mal... olha...
- Meu filho: pode poupar as palavras. Eu falei SÉRIO ontem. Já foi muita sorte eu entrar depois que tinha acabado. Você não tem culpa de nada.
- Não?
- Tudo certo. Coisa de homem. Fica entre nós.
- Sério?!
- Sem dúvida. Você levou duas pra cama ao mesmo tempo, meu filho. Isso aí merece respeito. Te pago uma ceveja.
- Mas meu deus?! Por que me endeusar tanto só porque trouxe duas puta pra casa?!
- Ah... eram putas?
- LÓGICO QUE ERAM PUTAS! Cê pensou que fosse o que?! Duas prima de 4º grau?
- Eu... pensei que fossem duas amiga, seila, caralho!
- Isso seria impossível.
- Porra não acredito que te flagrei com duas puta dentro de casa.
- Ah, pai!
- “APAI” é aonde cê vai parar quando eu te der uma porrada, moleque! Cê fica ae pegando puta o tempo todo, é? Porra... pegando puta, filho?! – inconformado e inconsolável, dizia vagarosamente:

- Pegando puta, filho? Cê não tem coisa melhor, não?
- Orra pai...
- Ah, o quê que é isso, rapaz? Cê tem mais de 20 ano, ae! Vai arrumar uma mulher, meu! Vai ficar ae com puta se arriscando até quando, porra? Quê que é isso ... – agora o inconformado já soava como sermão.

O menino ameaçou chorar.

- Cê vai chorar, meu?! Ah, puta que o pariu, moleque! Vê se acorda. Presta atenção no que cê ta fazendo!
- Porra pai eu fiz tudo isso de propósito só pra tentar te impressionar... mesmo não querendo.
- ... comé que é?!
- EU SOU GAY, pai. Eu gosto de homens.

Ele coça a barba lentamente e lança um olhar profundo ao filho:

- Gostar de homem tudo bem. Eu gosto de você, por exemplo, mas nem por isso eu te mostro minha bunda.

quinta-feira, junho 14, 2007

No telefone com Dona Fia

Dona Fia, pra quem não sabe ou não se lembra é minha avó. Já falei sobre ela uma vez aqui (depois clica, hein?). O que marca nossas conversas é nosso papo irreverente com alguns palavrões, a liberdade e a franqueza. Dessa vez liguei pra ela porque fazia um certo tempo que não nos falávamos. Acredite, a leitura é rápida (mas se vai valer a pena ou não, depende de você!).

- Alô.
- Faaaaala, véia!
- Aaahh, Boi Véio.
- Comé que ta?
- Tudo bem aí?
- Beleza, e aí?
- Tudo bem também.
- Costurando pra sua freguesia? (minha avó chama os clientes de fregueses)
- Ah to, né? Quem que é feliz com um salário mínimo?
- Ehehe. É bom porque suas freguesas do bairro onde você morava ainda trazem costura pra você, né?
- Trazem. A Célia, a Dulce... a Célia sempre fala que você é um menino educado, diferente. As veiarada lá do bairro adoram você.
- Época boa... o mais irônico é que eu só jogava bola la e acertava bolada no carro de todo mundo. Até no da Célia.
- Ontem o João e a Ana passaram aqui.
- A ANA E O JOÃO?! Nossa, faz muitos anos que não vejo eles. Como eles tão?
- A Ana ta gorda e o João ta igualzinho. Debochado do mesmo jeito.
- Que bacana... não consigo esquecer quando o João pegou aquele cachorro da rua e colocou dentro de casa. A molecada lá da minha época chamava o cachorro de “Costelinha” porque tinha um desenho com um cachorro que tinha esse nome...

- Ah é? Bom, eles tão tudo lá ainda. Mas e a negrona, como que ta?
- Negrona? Minha irmã? Minha mãe?
- Não...a NEGRONA.
- Ah, minha cachorra.
- Isso!
- Então... ela tem comido menos. Às vezes vomita, às vezes não. Parece melhor.
- Cê sabe que os cachorro tem santo, né?
- Cachorro tem santo? Santo tipo o Agostinho?
- É. É o São Lázaro e São Roque.
- Ta, e pra que eles servem?
- Tem uma simpatia que você entrega o cach...
- COMO?! Simpatia pra cachorro?!
- Ué! Tem, ué! Você entrega a Tag pra eles. E aí eles protegem ela. É como se a Tag não fosse mais de vocês. Vocês só cuidam dela.
- Eehehe, isso é meio engraçado.
- Mais que engraçado o quê?! Encara com seriedade.
- Não, eu sei que é sério...ehe, não é bem isso.
- Sabe que é sério mas ta sempre meio ateu, né?
- Não... não é isso!
- Sem proteção a gente ta perdido, André.
- É, eu sei...

- Você ainda tem aquelas orações que eu te mandei, né? Do “Jesus está comigo, comigo Jesus está”.
- Tenho, tenho sim.
- Ah bom, tem que ter. Como você acha que consegui vencer na vida aqui? Eu vim la de Mato Grosso até aqui com duas filhas e Deus. Só me misturei com gente boa, igual ou melhor que eu. Quem só ta afim de ter inveja é atraso de vida.
- Mas é assim mesmo que tem que ser! Só tomando cuidado pra não parecer interesseiro.
- Lógico! O negócio é só ter boas amizades. Quando eu cheguei aqui eu era muito ressabiada. Foram as pessoas que vieram até mim porque me valorizaram.
- Cê era o quê?! Ressabiada?!
- É! Como posso dizer.... RESERVADA.
- Ah ta... não, mas é verdade. Você venceu totalmente na vida aqui e eu ter nascido sou prova disso. Ou prova da merda que você fez aqui.
- Teu enderevi, muleque besta.
- Meu o quê?!
- Enderevi. É coisa de um irmão meu de Mato Grosso. Ele se misturava no meio dos paraguaio e conseguia falar Guarani. Aí ele vinha até a gente e falava as coisa e a gente não entendi nada. Quando alguém falava alguma besteira, ele falava “teu enderevi”, que é tipo “seu cu”.
- hahaaahahhaahahahahhahhahahhahahaha.
- E cherevi é o “meu”.
- hahhahahaahhahahahahahhahahahahahahahhahhahahahaa. Ah meu deus... peraí, peraí... enderevi é “seu cu” e “cherevi” é “meu cu”?
- É!
- Posso colocar nossa conversa de hoje na internet, vó?
- Uai, pode.
- Ai ai... ta... beleza.
- Mas olha: anota aí mais uma oração pra quando você dormir.
- Ta, fala.

“Com deus me deito,
Com deus me levanto.
Virgem nossa senhora
Que me cubra com seu manto.

Se eu coberto com ele for,
Não terei medo nem pavor
De coisa deste mundo
Nem se de outro mundo for.”

- Anotado. Valeu vó. Beijo.
- Outro, filho, fica com deus.
- Você também.