Mais uma vez me jogo nessa cama. Vejo a poeira subir lentamente em direção à lâmpada de 60W que (quase) ilumina esse quarto; tão pequeno que parece ter apenas três paredes. Eu moro sozinho agora. Apanho o mesmo caderno surrado de velhas páginas amarelas e sem contra capa. Em seu arame está presa minha caneta BIC Azul, quebrada e imunda.
Coloco ao meu lado esquerdo dois maços de cigarro, um cinzeiro e um copo grande de café. Do meu lado direito, um prato de plástico com dois pedaços de pizza de ontem: é hora de escrever, é hora de trabalhar.
Sim, eu fumo (mas fumo pra caralho), bebo café e como pizza: tudo ao mesmo tempo. É o que utilizo agora para me inspirar no trabalho. Considerando a inspiração anterior, acredito que esteja num processo evolutivo.
Antigamente ela era necessária para que eu produzisse, agora eu a troquei por nicotina, cafeína e calorias. Estou satisfeito!
Antigamente ela estava presente em tudo o que eu fazia, agora não quero nem vê-la na minha frente.
Antigamente ela dava sentido à minha vida, hoje reconheço o tempo perdido.
Antigamente era dependente dela para meu trabalho ser aprovado, hoje tenho amor próprio.
Minha ex-inspiração? Minha ex-heroína, a cachorra traidora da minha ex-esposa. É... estou melhor agora, definitivamente.