quarta-feira, maio 23, 2007

SEJA HOMEM

Recentemente, andando pelas ruas como sempre tive o costume de fazer, avistei um senhor que já denunciava sua terceira idade a duas quadras de distância. Andava em sua direção e passar por ele seria inevitável. Não que isso fosse um problema, mas por algum motivo a presença dele me intimidava. Quando estava bem perto dele, olhei em seus olhos e o cumprimentei. Ele sorriu e fez um sinal com a cabeça. Quando começaria a me distanciar ele disse:

- “Você me lembra minha juventude”.

Um pouco desconcertado, sorri, voltei em sua direção e perguntei o porquê. Ele me disse que era porque ainda não tinha me tornado um homem completo. Eu estava prestes a mandar o velho pro lugar que vocês sabem, mas aquele corpo abatido e aquelas rugas não conseguiam amenizar o olhar sóbrio e firme daquele velho. Continuei intimidado. Ele deu um sorriso de canto de boca, e simplesmente começou a discursar o que vou tentar representar em melhores palavras aqui.

“Eu era como você na juventude. E poderia ter desfrutado muito mais se alguém me dissesse o que eu vou te dizer: sempre faça o que deve ser feito, e não o que você quer fazer. Aja como deve se agir, e não como você gostaria. Agüente firme o tempo todo, muitas vezes fazendo o que você não quer, porque você sabe que é o certo. Lute também o tempo inteiro contra suas vontades e instintos que você sabe que não te farão bem. O tempo inteiro! Nunca é fácil, mas não escorregue: seja um homem.

Nunca se humilhe. Mereça. Justamente, é claro, mereça. Então, saiba que se você não teve, você não merecia. Merece algo diferente. Talvez até melhor! Paciência. Tenha sempre essa gota de amor próprio: o suficiente pra conseguir fazer você se desdobrar de esforços para conseguir o que quer, mas também suficiente pra você não se humilhar.

Na medida. Justo.

E se não conseguiu, paciência. Você já entendeu como as coisas funcionam. Você é homem. Aja como um. Ah, tenha boa memória. Se você conseguir seguir tudo até aqui, não há combate que você não vença se tiver boa memória. Não há injustiça que te vença, apenas a dor de ter paciência por mais uma vez não ter sido como você queria. Afinal, você agiu como deveria agir. Fez o certo, e não como gostaria. Foi um homem.

Entende o que eu digo?”

Fez uma pausa e com certeza notou minha perplexidade. Então continuou:

“Não, jovem! Não! Você não será infeliz. Muito pelo contrário. Começará a agir sempre assim instintivamente”. – sorriu mostrando a dentadura amarelada e concluiu:

“Pode errar de vez em quando! Não se preocupe tanto, também. Falam por aí que a gente é o ser mais evoluído da Terra, mas ainda somos muito imperfeitos. Agora pode ir, eu preciso cuidar do meu reumatismo”.

Entrou em sua casa e me deixou com a seguinte dúvida: se eu fizer o que deve ser feito, o certo, quando eu vou viver da maneira que eu gostaria? Então o que eu quero nunca é o certo? Ou é só uma questão de bom senso já que sabemos quando estamos ou não errados? Ou não sabemos? Ou simplesmente posso mandar tudo isso pra puta que pariu já que o velho não tinha como saber de fato se era como eu na juventude?

Sinto muito, sem conclusões finais dessa vez.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tenho 19 anos.
Sinceramente valeu a pena
saber desse posicionamento.

Acho que se tivermos personalidade
e se fazermos o que deve ser feito.

Se merecermos, se não nos humilharmos...
enfim, se fizermos isso seremos homens de verdade.