sexta-feira, fevereiro 24, 2006

A Primeira Vez

Segurando o palito de fósforo totalmente trêmulo, aproximou-o de seu cigarro. Viu a chama vermelha brotando, deu uma tragada lenta e profunda, fechou os olhos e tomou consciência do que havia feito. O corpo estava à sua frente, envolto a uma poça de sangue, inerte a qualquer sopro de vida, inerte a qualquer sentido de seu carrasco. Frio e calculista, o executor estava sentado numa cadeira, observando o corpo todo retorcido num canto e a cabeça num outro da pequena sala escura.

Um silêncio brutal invadira o recinto. Audível tornara-se apenas seu cigarro queimando a cada tragada. Seus olhos, imóveis, pareciam admirados e se entorpeciam com a cena. Era como se tudo fizesse sentido, como se levassem todas suas frustrações e angústias para longe do mistério de sua existência.

A passos mansos e desalinhados espalhou gasolina pelo recinto, caminhou lentamente até a porta e atirou a bituca de seu cigarro. Regozijou-se com o calor emanado em seu rosto, que o fez erguer os braços e inspirar profundamente. Sua alma agora se sentia livre e renovada. Já não estava mais trêmulo quando um pequeno sorriso surgiu em sua face.

3 comentários:

Anônimo disse...

Vontade de fumar um cigarro, mas não de matar alguém.
Bom feriado, querido

Dóia Veloso disse...

o único calor que eu quero sentir é o calor humano, o corpo de outra pessoa esquentando o meu... mas não o calor do fogo me queimando... não msm..
E tow sem minha mete assassina..
;****

Anônimo disse...

Atualiza!